Este é o percurso de um menino que acompanhei na piscina durante dois anos letivos e que tem como diagnóstico clinico perturbação do espectro do autismo.
Na verdade, quem acompanha este blog já conhece uma parte desta "história"....
( post de 03.agosto.13).
Iniciou terapia aquática, em contexto individual em Setembro de 2012. No inicio era uma criança enigmática... em alguns periodos demonstrava prazer em estar na piscina e queria correr dentro de água, mas no momento seguinte ficava apreensivo e tentatava fugir... O som vindo das outras aulas, os salpicos na cara, as tarefas mais estruturadas, a zona profunda da piscina eram desafios com os quais o D. tinha muita dificuldade em lidar.
Para os menos atentos (ou sem formação em terapia aquática) poderia-se pensar que seria um menino que não tinha grandes hipóteses de evoluir.... Felizmente, nesta criança os pais acreditaram na intervenção, deram tempo para haver mudanças positivas, estimularam o D. no seu dia -a -dia e deram sempre um feedback próximo... Eu tentei perceber o comportamento, desempenho e interesses do D. e ele... senitu-se seguro, confiou, envolveu-se e superou dificuldades, aula após aula!
Demoramos meses para alcançar etapas que podem parecer muito simples como o tolerar os salpicos da água na cara, o mergulhar ou o conseguir estar na piscina em zona de maior profundidade... Demoramos muito, mas conseguimos também que adquirisse a autonomia no movimento de deitar e levantar em segurança, dentro de água!
Para além da evolução gradual ao nível da adaptação ao meio aquático começou a haver também uma mudança ao nivel comportamental.... Mais e maiores períodos de estabilidade, com mais facilidade em manter a atenção na instrução dada, maior interesse e capacidade de reproduzir a demonstração do adulto, mais curiosidade em ver e imitar o que os alunos de outras aulas estão a fazer!!!
Estas foram evoluções muito importantes e que me levaram a pensar... porque não tentar a integração numa aula regular???
Neste caminho o Professor Nuno Ventura teve um papel muito importante: com a sua natural aptência para interagir com o D., de perceber as suas necessidades e interesses, permitiu que em diversos momentos o D. realizasse uma parte das atividades da aula regular que dirigia. Na minha opinião esta foi uma das etapas fulcrais! O D. sentiu que poderia estar com outras crianças e adultos na piscina, ganhou autonomia em relação a mim e começou a seguir as instruções mesmo quando vindas de outro "lider"!
Outros colegas, a quem pedi ajuda / opinião ao longo deste percurso foram também importantes para melhorar a intervenção .... a Professora Inês Figueiredo (com a partilha de informação sobre feedback's e a sua utilização diferenciada), o Professor Rui Santos (com as sugestões para melhorar a qualidade do batimento de pernas).
E foi assim que gradualamente me pareceu que poderiamos apostar na integração numa aula regular em que:
as outras crianças funcionam como
modelos positivos,
o professor pode dar um feedback e orientação no sentido de melhorar a qualidade de movimento e da adaptação ao meio aquático
o D. será desafiado a ajustar o seu comportamento face às exigências da aula.
Esta tarefa está agora a ser desenvolvida pelo Professor Beto!
Este foi um menino que me desafiou a reflectir sobre muitos aspectos....a importância da terapia aquática, o contributo diferencial do trabalho em equipa e das possibilidades da integração em aula regular.
Na terapia aquática continuarei a trabalhar com outras crianças e para o D. desejo óptimos mergulhos e batimentos de pernas muito integrados!!!